sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sempre a velha questão...



Um exemplo engenhoso do discurso e da política ocorreu recentemente na Assembleia das Nações Unidas e fez a comunidade do mundo sorrir.Um representante de Palestina começou: "Antes de começar a minha intervenção, quero dizer-lhes algo sobre Moisés:Quando partiu a rocha e inundou tudo de água, pensou, que oportunidade boa de tomar um banho!
Tirou a roupa, colocou-a ao lado sobre a rocha e entra na água. Quando saiu e quis vestir-se, a roupa tinha desaparecido. Um Israelita tinha-as roubado." O representante Israelita saltou furioso e disse, "Que é que você está a dizer? Os Israelitas não estavam lá nessa altura."
O representante Palestiniano sorriu e disse: "E agora que se tornou tudo claro, vou começar o meu discurso."


quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Casas que envelhecem virgens


O sector imobiliário está num momento desolador. Muitas casas não se vendem, muitas não se pagam, muitas não se constroem até ao fim. O ajustamento é feito pelo preço mas a descida do metro quadrado não é ainda suficiente para ajustar a muita oferta à pouca procura.

Os perdedores fazem fila: proprietários que não vendem, promotores que não recebem, investidores que não realizam, imobiliárias que não comissionam, bancos que não cobram, câmaras que não taxam. Todos aqueles que lucraram uma década de prosperidade estão agarrados à cabeça.
Ponto prévio: não há um "crash" imobiliário em Portugal, como há noutros países, e nem é preciso falar dos Estados Unidos. Em Espanha e em Inglaterra há enormes desvalorizações de um sector que estava sobreaquecido, com consequências devastadoras para a economia. Um "crash" imobiliário é mais perigoso que um "crash" bolsista, porque há mais dinheiro das famílias envolvido e porque demora mais tempo a inverter. Safámo-nos disso porque há vários anos deixámos de subir preços, ao contrário doutros países. Os espanhóis e os ingleses, justamente, foram grandes investidores no metro quadrado de Lisboa, Algarve e Alentejo. Agora estão a vender, saltando do prato da procura para o da oferta, desequilibrando ainda mais a balança.
Em crises bolsistas passadas, houve deslocação de dinheiro das acções para os mercados imobiliários. Mas nesta, a queda das acções é uma consequência, não uma causa, de um excesso de negócios montados em cima de crédito, gerando uma procura artificial com subavaliação de riscos, o que aumentou preços em todos os lados, incluindo o imobiliário. Agora, o mercado está ilíquido, com pouca transacção, e quem ficou dono de casas demasiado caras é primo de quem ficou com as acções a preços meteóricos: os activos desvalorizaram. Mãos cheias de nada.
É inútil agora dizer "eu bem avisei", até porque avisámos todos, ao mesmo tempo que assinávamos contratos-promessa. A subida dos preços ficou primeiro no bolso dos investidores, com o tempo passou para a algibeira dos construtores e no final eram já os donos dos terrenos a ficar com o quinhão: os preços foram subindo retroactivamente. Pelo caminho, as câmaras fecharam os olhos às florestas de cogumelos de betão, porque o seu modelo de financiamento depende viciosamente das licenças para construir e dos impostos para adquirir e habitar.
Agora, ou se desce o preço, ou não há mercado. Mas isso significa assumir prejuízos: proprietários venderão mais barato, investidores perderão dinheiro, promotores suspenderão construções.
A alternativa é não vender e assumir os custos de ficar com as "casas que envelhecem virgens", como caracteriza o presidente da associação de promotores imobiliários APEMI. Ele foi, durante anos, o Manuel Pinho do imobiliário: optimista, arauto do sucesso e do "comprem, comprem, comprem", que contribuiu para o "construam, construam, construam" que levou ao absurdo de fogos agora vazios e não transaccionáveis. Ele é um exemplo dos excessos e agora até dá lições de moral aos seus associados: o que os construtores não sabem é construir as casas que as pessoas querem, diz. Eis uma pista: o que as pessoas querem das casas é comprá-las baratas; o que os especuladores querem é vendê-las caras; o que os aflitos anseiam é despachá-las a que preço for. É tão simples quanto inconciliável. Vai demorar anos a inverter. E há milhares de monumentos com uma placa que não nos deixará esquecê-lo: a placa "vende-se".


Pedro Santos Guerreiro

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A Banca nacionalizou o Governo.


Quando, no passado domingo, o Ministério das Finanças anunciou que o Governo vai prestar uma garantia de 20 mil milhões de euros aos bancos até ao fim do ano, respirei de alívio. Em tempos de gravíssima crise mundial, devemos ajudar quem mais precisa. E se há alguém que precisa de ajuda são os banqueiros. De acordo com notícias de Agosto deste ano, Portugal foi o país da Zona Euro em que as margens de lucro dos bancos mais aumentaram desde o início da crise. Segundo notícias de Agosto de 2007, os lucros dos quatro maiores bancos privados atingiram 1,137 mil milhões de euros, só no primeiro semestre desse ano, o que representava um aumento de 23% relativamente aos lucros dos mesmos bancos em igual período do ano anterior. Como é que esta gente estava a conseguir fazer face à crise sem a ajuda do Estado é, para mim, um mistério.
A partir de agora, porém, o Governo disponibiliza aos bancos dinheiro dos nossos impostos. Significa isto que eu, como contribuinte, sou fiador do banco que é meu credor. Financio o banco que me financia a mim. Não sei se o leitor está a conseguir captar toda a profundidade deste raciocínio. Eu consegui, mas tive de pensar muito e fiquei com dor de cabeça. Ou muito me engano ou o que se passa é o seguinte: os contribuintes emprestam o seu dinheiro aos bancos sem cobrar nada, e depois os bancos emprestam o mesmo dinheiro aos contribuintes, mas cobrando simpáticas taxas de juro. A troco de apenas algum dinheiro, os bancos emprestam-nos o nosso próprio dinheiro para que possamos fazer com ele o que quisermos. A nobreza desta atitude dos bancos deve ser sublinhada.
Tendo em conta que, depois de anos de lucros colossais, a banca precisa de ajuda, há quem receie que os bancos voltem a não saber gerir este dinheiro garantido pelo Estado. Mas eu sei que as instituições bancárias aprenderam a sua lição e vão aplicar ajuizadamente a ajuda do Governo. Tenho a certeza de que os bancos vão usar pelo menos parte desse dinheiro para devolver aos clientes aqueles arredondamentos que foram fazendo indevidamente no crédito à habitação, por exemplo, e que ascendem a vários milhares de euros no final de cada empréstimo. Essa será, sem dúvida nenhuma, uma prioridade. Vivemos tempos difíceis, e julgo que todos, sem excepção, temos de dar as mãos. Por mim, dou as mãos aos bancos. Assim que eles tirarem as mãos do meu bolso, dou mesmo.

Ricardo Araújo Pereira (Revista Visão – 23.Out.2008)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Vox populi, Vox Dei...


"Com papas e bolos se enganam os tolos..." - Adágio Popular

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Quando a comida tapa vazios interiores

Apetece-me falar-lhe de três coisas no Dia Mundial da Alimentação, que serviu de inspiração a esta edição especial do Destak .
A primeira é que a maioria de nós tem muita sorte em nem sequer conseguir imaginar o que é passar fome. Existem 925 milhões de pessoas, entre elas 55 milhões de crianças, que morrem por falta de comida. Pior ainda, a sua situação agravou-se com a decisão tragicamente verde de canalizar 100 milhões de toneladas de cereais para a indústria dos biocombustíveis, que paga mais. Falo nisto não para que se sinta culpado por ter comida no prato, mas para recordar a necessidade de mais solidariedade:
a ajuda internacional em 2008 desceu ao nível mais baixo em 40 anos. A segunda é que ironicamente deste lado do mundo temos comida a mais. E o pior é que a comemos! O resultado está à vista nos números crescentes de gente que sofre de obesidade e de doenças cardíacas ligadas a uma dieta demasiado rica. Por outras palavras, por aqui há gente que morre por ter o prato demasiado cheio. Não é uma questão de gula, mas uma consequência de estarmos ancestralmente programados para armazenar o máximo de energia possível, de forma a sobreviver no tempo das vacas magras, que acabava sempre por chegar. Só que não chega, e tal como os hamsters, vamos enchendo as bochechas sem parar. A única solução, dizem os especialistas, é convencer o corpo de que se atravessa um período de fome, levando-o a desligar o apetite e a queimar o que acumulou. Na prática passa por entender que não é preciso comer até «encher», como nos obrigavam em crianças (a despensa cheia é um fenómeno muito recente).
A terceira está ligada ao facto de misturarmos alimentos e emoções. A comida foi usada como recompensa e como símbolo exterior de amor. Deram-nos rebuçados quando chorávamos ou esfolávamos um joelho, e hoje quando nos sentimos tristes recorremos à comida para encher vazios, para colmatar o tédio. Num quadradinho de chocolate tentamos encontrar o colo da nossa mãe. O ciclo só se rompe perante um destes ataques de fome se nos perguntarmos que buraco queremos realmente tapar. E aí podemos partir à procura do verdadeiro Graal, que não é decididamente uma bola de berlim.


ISABEL STILWELL (Editorial jornal "Destak" de 16.Out.2008)

terça-feira, 14 de outubro de 2008

A ALDEIA QUE FOGE À TRISTE REGRA DO INTERIOR

Um oásis em Trás-os-Montes. O que é que a aldeia de Palaçoulo, em Miranda do Douro, tem de diferente das outras aldeias de Trás-os-Montes? Na escola do ensino básico surgiu uma segunda turma, não há população desempregada. É um verdadeiro oásis, dizem, no reino da desertificaçãoEscola Primária de Palaçoulo reabre com mais uma turma O David quer ser caçador quando for grande. A professora explica-lhe que caçar coelhos, perdizes ou até mesmo javalis, nos montes do planalto mirandês, não é profissão. Então, talvez seja electricista como o pai, que, quando chega o mês de Outubro, também anda pelos montes a dar caça às espécies cinegéticas. David, 10 anos, frequenta uma das raras escolas de aldeia do interior transmontano. E uma escola com muitos alunos, correrias, risos e brincadeiras no hora do recreio. Este ano, David viu chegar seis novos colegas. E uma nova professora, porque a escola do 1.º ciclo básico de Palaçoulo, no concelho de Miranda do Douro, de uma passou a ter duas turmas. Caso único, espantoso, num distrito que viu, só nos últimos três anos, encerrar 220 estabelecimento de ensino. E aqui o crescimento da comunidade estudantil não se deve a filhos de imigrantes, como aconteceu há anos no Algarve: são filhos de jovens casais de Palaçoulo.Nesta aldeia onde os mais velhos ainda falam o mirandês, ao contrário do resto do País, não há desemprego. A indústria da tanoaria e das cutelarias absorve toda a mão-de-obra jovem da terra e de "aldeias vizinhas", diz com orgulho José Augusto Ramos, antigo guarda fiscal, agora presidente da junta de freguesia. E mais casais jovens, por certo, ficarão na terra onde nasceram quando avançar o loteamento, feito pela autarquia, que permitirá a construção de doze fogos.Conceição Mendo, há dois anos a leccionar em Palaçoulo, encontrou nesta aldeia de Miranda alunos com conhecimentos "razoáveis". "São crianças que já têm computador em casa e sabem lidar bem com as novas tecnologias." Os pais, o casal, estão empregados. "Depois do trabalho na fábrica, vão para o campo e todos cultivam a sua horta." Este complemento sadio, segundo a professora, permite-lhes "um nível económico sem grandes problemas".David, o menino que deseja ser caçador como o pai, gostava de aprender o dialecto dos seus antepassados. Aliás, todos os alunos do 4.º ano manisfestaram esse desejo. E podiam aprender o mirandês, disciplina optativa, a par do inglês. À entrada da aldeia, na placa toponímica o nome aparece grafado em Português e no dialecto local. Os pais, contudo, não acharam importante os seus filhos saberem falar e escrever em mirandês. Já em Sendim, na outra escola do agrupamento, os alunos recebem duas horas semanais dessa língua.Se no 1.º ciclo do ensino básico houve um crescimento de alunos, na pré-primária, que funciona mesmo ao lado da escola, a história é um pouco diferente. Pela primeira vez, nos últimos anos, saíram crianças (as seis que forçaram a duplicação da turma) e não entrou nenhuma. A situação não é preocupante, garante a educadora Ermelinda Fernandes. "Palaçoulo é uma aldeia em desenvolvimento", diz. Dentro de três ou quatro anos, o jardim infantil , agora com meia dúzia de meninos, voltará a atingir o número de "12 ou 13 crianças".Palaçoulo com tecnologia ao nível da indústria alemãTrabalho. Empresas familiares passam fronteiras e travam despovoamento Chamam-lhe o "oásis" no meio da desertificação transmontana. Na aldeia de Palaçoulo, terra de fabricantes de pipas , facas e canivetes, não há desemprego. A agricultura, outrora a principal actividade, está em declínio, mas as indústrias locais, todas elas familiares, sustêm o despovoamento.A família Gonçalves tem um século de experiência na arte de tanoaria. Da pequena oficina artesanal, passou a fábrica com a mais moderna tecnologia, que exporta "80 a 90 %" da sua produção". As pipas aqui produzidas destinam-se, refere José Gonçalves, a mercados como o dos Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, França, Chile e Argentina.A tanoaria da família Gonçalves dá emprego a 42 pessoas. O volume anual de negócios ronda os 5 milhões de euros. "Não é nada do outro mundo", refere José Gonçalves, jovem empresário, que ajudou à duplicação da turma da escola do ensino básico: um filho entrou agora para o 1.º ano, tem outro na pré-primária. "Não é nada do outro mundo, porque estamos numa aldeia. E se dizem que isto é um oásis, o que nos cerca, toda a região transmontana, é um deserto!"Palaçoulo também nos remete para as cutelarias, com grande tradição na aldeia, que fica a cerca de 25 quilómetros de Espanha. Na mais familiar de todas, os três irmãos Pires, que aprenderam a arte com o pai, fizeram em tempos "o maior canivete do mundo". Não saberemos se é ou não o maior de todos. Um coisa é certa, vimos a réplica e tal navalhinha impõe--se: aberta mede quase quatro metros, pesa 122 quilos.Os irmãos Pires, presença habitual nas principais feiras de artesanato do País, demoraram nove dias a fabricar o gigantesco objecto. Esta casa - aos três irmãos junta-se outro artesão - além dos canivetes, alguns com cabo de chifre de veado ou de dente de javali, fabrica facas, punhais, cutelos e machados.Com outra dimensão são as duas fábricas de cutelarias: a de José Afonso Martins e a FilMAM. Empregam 40 trabalhadores e disputam mercado além fronteiras. "Temos tecnologia evoluída ao nível dos alemães", diz o sócio gerente da Afonso Martins. Espanha, França, Itália e Angola são alguns dos países para onde são exportadas as cutelarias de Palaçoulo.Uma das empresas, familiares como todas as outras existentes na aldeia de Trás-os-Montes profundo, tem licenciamento para produzir, desde este ano, canivetes com os símbolos dos três grandes do futebol português: Benfica, Porto e Sporting.A freguesia de Palaçoulo tem 700 habitantes. O presidente da junta, José Augusto Ramos, deseja preservar a memória da agricultura tradicional da sua agora industrializada aldeia. Um particular ofereceu-lhe o espólio, fruto de recolhas de anos. Falta o espaço para o museu.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Lola, a 'schindler' galega, salvou 500 judeus.


Nunca é demais relembrar:

Lola Touza Domínguez seria hoje lembrada como a mãe solteira que geria o bar da estação de comboios de Ribadavia, na Galiza, não fosse o facto de ter liderado uma rede clandestina que, entre 1941 e 1945, ajudou perto de cinco centenas de judeus a escapar às chamas do Holocausto. A história desta "Schindler" galega era tão secreta que nem os seus filhos tiveram conhecimento dela, escreveu ontem o jornal espanhol El Mundo, que lhe dedicou três páginas.

O segredo de La Madre, nome de código que ela usou na altura, foi apenas desvendado, em 1964, por um dos judeus que ela ajudou a fugir para os Estados Unidos da América. Isaac Retzmann pediu naquela altura a um galego seu conhecido que procurasse notícias da mulher. Lola estava então com 70 anos (acabaria por morrer dois anos depois). O enviado galego chegou até ao alfarrabista Antón Patiño Regueira e com ele começou a desvendar o segredo.

Antes de morrer, em 2005, Antón deixou escrita a verdadeira história dos heróis de Ribadavia. Não só de Lola, mas de toda a rede, que incluía, entre outros, as suas irmãs, dois taxistas, um marinheiro, um emigrante retornado. Os judeus que fugiam pelos Pirenéus chegavam de comboio à localidade de Ribadavia, nas margens do rio Minho, sendo depois transferidos para Portugal. A maioria partia em seguida, de barco, para os EUA, Brasil, Argentina, Venezuela, Marrocos ou Argélia.

Foi também só agora que o neto de Lola, Julio, de 57 anos, pôde começar a reconstituir a história. No mês passado foi plantada na Ala dos Justos entre as Nações uma árvore em homenagem de Lola. Este título é atribuído pela Fundação Yad Vashem, em Jerusalém Ocidental, a todos os que salvaram judeus.

DN de 13 de Outubro de 2008.


quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Galinhas tontas

Depois do período de caça aos culpados no sector financeiro, actividade sempre simpática nestes momentos em que todos sacodem a culpa para o lado, o drama inicial ameaça tornar-se num filme de terror. O que se adivinhava. Os governos estão a comportar-se como as galinhas em momentos de pânico: fogem em todas as direcções. Depois de alimentados, anos a fio, com o milho do neo-liberalismo, vêem-se sem capoeira.

A actual geração de líderes formou-se no período pós-Thatcher e pós-Reagan, em que os governos atiraram para o lixo as ideologias e se tornaram gestores. Desde então nada diferenciava a esquerda da direita. Escolhia-se, apenas, quem aparentava ser o mais competente para gerir a economia de mercado.
O resultado está à vista: o delicado castelo de cartas financeiro ruiu com estrondo, e os governos refugiaram-se nos anti-depressivos. A economia criada a partir de ficções criou líderes de desenhos animados. Olhe-se para a resposta dos principais líderes europeus à crise: D’Artagnan (o do "um por todos, e todos por um!") teria vergonha de voltar a sair à rua. Já se sabia que a UE não tem uma política única de defesa. Mas acreditava-se que, num momento de crise financeira grave, tivesse uma política económica única. Não tem.

O que é uma vergonha para uma comunidade que começou a ser construída à volta de um mercado comum. Os novos políticos europeus estão órfãos. Nem têm ideologia, nem, agora, sabem usar o poder do Estado. Eram gestores. Agora são galinhas tontas.


(Fernando Sobral – Jornal de Negócios 08/10/2008)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Vivó nosso Presidente!...


Actualmente recebe três pensões pagas pelo Estado:

4.152,00 - Banco de Portugal.

2.328 ,00 - Universidade Nova de Lisboa.

2.876,00 - Por ter sido primeiro-ministro.
9.356,00 - TOTAL ( 1 875 709 $ 60 )
Podendo acumulá-las com o vencimento de P. R.

Porque será que, o Expresso, o Público, o Independente, o Correio da Manhã e o Diário de Notícias, não abordaram este caso, mas trataram os outros conhecidos, elevando-os quase à categoria de escândalos, será que vão fazer o mesmo que fizeram com os outros ??

Não será por este e outros a razão da falência da Segurança Social ???
Só as reformas dos funcionários públicos é que causam tanto mal à economia deste país???


Imagem: Mais uma vez me "socorri" do WeHaveKaosInTheGarden...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Inverno Frio


Não resisti a colocar esta pequena história que me foi agora enviada por "mail". Está 5*...

Estava-se no Outono e, os Índios de uma reserva americana perguntaram ao novo Chefe se o Inverno iria ser muito rigoroso ou se, pelo contrário, poderia ser mais suave. Tratando-se de um Chefe Índio mas da era moderna, ele não conseguia interpretar os sinais que lhe permitissem prever o tempo, no entanto, para não correr muitos riscos, foi dizendo que sim senhor, deveriam estar preparados e cortar a lenha suficiente para aguentar um Inverno frio.
Mas como também era um líder prático e preocupado, alguns dias depois teve uma ideia. Dirigiu-se à cabine telefónica pública, ligou para o Serviço Meteorológico Nacional e perguntou: "O próximo Inverno vai ser frio?" -"Parece que na realidade este Inverno vai ser mesmo frio" respondeu o meteorologista de serviço.
O Chefe voltou para o seu povo e mandou que cortassem mais lenha. Uma semana mais tarde, voltou a falar para o Serviço Meteorológico: "Vai ser um Inverno muito frio?" "Sim," responderam novamente do outro lado, "O Inverno vai ser mesmo muito frio".Mais uma vez o Chefe voltou para o seu povo e mandou que apanhassem toda a lenha que pudessem sem desperdiçar sequer as pequenas cavacas. Duas semanas mais tarde voltou a falar para o Serviço Meteorológico Nacional: "Vocês têm a certeza que este Inverno vai ser mesmo muito frio?" "Absolutamente" respondeu o homem "Vai ser um dos Invernos mais frios de sempre."
"Como podem ter tanto a certeza?" perguntou o Chefe. O meteorologista respondeu "Os Índios estão a aprovisionar lenha que parecem uns doidos."É assim que funciona o mercado de acções.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

‘Ensaio sobre a cegueira’ revolta invisuais nos EUA


"Película da autoria do cineasta brasileiro Fernando Meirelles é inspirada no romance do português e laureado com o Nobel da Literatura, José Saramago.

O filme “Ensaio sobre a cegueira”, de Fernando Meirelles, estreia amanhã nos Estados Unidos, mas está já a causar polémica entre os invisuais, que se queixam da imagem que é passada sobre os cegos.
A Federação Nacional dos Invisuais dos Estados Unidos está a preparar um protesto contra o filme, que se baseia num romance de José Saramago, e que estreará em 75 salas de cinema em pelo menos 21 estados norte-americanos.
Citado pela Associated Press, o presidente da Federação Nacional dos Invisuais, Marc Maurer, afirmou que a cegueira não é uma “alegoria muito inteligente para falar sobre o colapso da sociedade”.
“O filme retrata as pessoas cegas como monstros e isso é mentira. A cegueira não transforma pessoas decentes em monstros”, indignou-se Marc Maurer. A federação está a planear protestos junto dos cinemas, com recurso a cartazes, onde estará escrito “Não sou actor, mas na vida real eu sou uma pessoa cega”.
A história de “Ensaio sobre a cegueira” é sobre uma estranha epidemia de cegueira branca que gera o caos no seio de uma comunidade, o instinto de sobrevivência a sobrepôrse à civilização.
O filme, que conta com a interpretação de Julianne Moore, Mark Ruffalo, Danny Glover e Gael García Bernal, teve antestreia mundial em Maio, na abertura do Festival de Cinema de Cannes.
Os estúdios Miramax lamentaram o protesto e defenderam que o realizador brasileiro Fernando Meirelles teve a preocupação de se manter fiel à história de José Saramago."

In: Jornal “Global” (2 de Outubro de 2008)


Comentário: Realmente os americanos andam todos "cegos"...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sud Express – Uma inesperada viagem no tempo


Manhã soalheira, perdida num recanto do nosso país, longe de imaginar o que me esperava. Entrei vagarosamente na estação. Não me lembrava da última vez que andara de comboio, mas a ideia agradava-me. Mais não fosse pelo inesperado da viagem.

“Para Lisboa s.f.f”.
“No Sud Express ou no Intercidades?”, ouviu-se.
“No primeiro que passe” respondi.
Pois bem, calhara-me o Sud Express.
Aguardando no cais, percorro a memória com alguma dificuldade, dado o cansaço acumulado, agravado pelo frio que aos poucos me tolhia o pensamento.Ainda assim, rebusquei nas memórias aquela designação, e ocorreu-me:Sud Express?
O histórico comboio que outrora levou Portugal em direcção à Europa?O Sud Express que eu lera nos manuais, das emigrações e dos exílios?O famoso comboio que eu ouvira falar dos inter-rails das décadas de oitenta e noventa?A viagem que inspirou o filme?
Esperar para ver.
Encostada à parede, deixo que o sol outonal me aqueça o corpo e a alma.Fecho ligeiramente os olhos, mas logo soa ao longe o ruído do comboio que aguardo.Chega ao cais número cinco, como previsto, às 09h56.
Descem alguns passageiros, com a ânsia de quem chega ao destino.Sobem novos passageiros, com a curiosidade de quem embarca num velho pedaço de ferro, num velho pedaço de História.
Parece-se com o esboço do Sud Express que me veio à memória, ainda que antiquado, sujo e ruidoso.
Estreito corredor a fora, busco um qualquer compartimento vazio.Corro as cortinas de um laranja desbotado e deixo entrar o sol. Encosto-me e descontraio. Espera-me uma viagem de uma hora, sem paragens até ao destino.Apetece-me dormir, mas luto contra o cansaço. Quero desfrutar a viagem, seja lá o que isso for.
O comboio arranca, com a dificuldade e lentidão que se espera de um centenário. O trémulo Sud Express reinicia a viagem e eu deslizo pelo banco a baixo.
Um homem de meia-idade bate no vidro da porta de correr e pergunta se pode partilhar comigo o compartimento.
Que dejá vu . Soava-me a filme.
Murmuro um Sim, acompanhado com um sorriso amarelo qb.
Munido de um tripé e gigantes objectivas fotográficas, instala-se no banco da frente.Mete conversa, outra coisa não seria de esperar.
Se me importo que estique as pernas e as apoie no banco. Não.
Se faz paragens até Lisboa. Pelo que sei, não.
Se tenho lume. Não fumo.
Se estou a gostar de ler aquele livro. Mais ou menos.Se costumo viajar de comboio. Não.
Se não acho que em vez do TGV, seria mais certeiro e menos megalómano reabilitar as linhas ferroviárias existentes. Acho.
Perante tamanha amabilidade, resolve dedicar-se a ler um qualquer semanário.Em boa-hora, talvez assim eu possa contemplar o cenário lá fora.
A janela era um ecrã sem direito a zapping.
Paisagens de um verde acastanhado iam alternando com a solidão das casas que o sol iluminava sem grande êxito. Uma estrada vazia, ao longe. Um aglomerado de casebres parecia perdido num vale escuro e húmido. Os campos de cultivo, descurados, votados ao esquecimento, povoados de ervas daninhas. Nem uma pessoa a vislumbrar.
Aos poucos, o cenário começava a mudar. A periferia de Lisboa, triste, poeirenta, pardacenta, grafittada, gradeada.
Abranda o ritmo quando se avista a moderna Gare do Oriente, em contraste com o velho comboio.
Desembarcam alguns, seguem os resistentes.
Ao fim da manhã de domingo, chega a Santa Apolónia.
Com vagar, despeço-me do companheiro de viagem com um sabor amargo que não me é característico.
Do nada, beija-me a mão e despede-se com um sorriso que lembra o meu avô.Ou seja, afável, mesmo quando não é correspondido.
Desço para o cais. As plataformas estão praticamente desertas, silenciosas. Os meus olhos vêem-nas a preto e branco, numa versão de outros tempos.
Um filme, esta viagem.
Como aquele a que o Sud Express já deu nome.

Publicada no blog: agre-e-doce.blogspot.com/2007/11/crnica-de-um...