sábado, 31 de dezembro de 2011

Diógenes


Diógenes, o Cínico, um filósofo da Grécia Antiga, habitava as ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema uma virtude. Vivia num grande barril e percorria as ruas carregando uma candeia, à procura um «homem», honesto e íntegro.
Que eles apareçam na vida social e política em 2012.

Portugueses enfrentam em Janeiro vaga de aumento de preços.


Do café às águas engarrafadas, aos refrigerantes, ao pão, Janeiro marca o início da vaga de aumentos de preços decidida pelo Governo para 2012. Os restaurantes que abrirem no domingo já têm de aplicar as novas taxas do IVA. Na saúde, as taxas moderadoras podem no próximo ano chegar aos 50 euros. Ir ao teatro ou ao cinema vai também ser mais caro.

Nota: E ainda por cima o ano é bissexto!...

Sem comentários II

Ladrões vandalizam carro do ministro das polícias.


A viatura oficial do ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, foi vandalizada, na madrugada deste sábado, perto de um hotel da cidade de Braga, onde o motorista do actual "ministro das polícias", passou a noite após ter acompanhado a PSP e a GNR em operações de fiscalização.

Fonte da PSP confirmou ao JN que o vidro da viatura oficial de Miguel Macedo, um "Audi A6", foi encontrado partido esta manhã. No entanto, não foram levados objectos ou documentos do interior do carro.

O vidro partido foi o do lado do conductor. A PSP está a investigar.

Nota: PALAVRAS PARA QUÊ?

Sem comentários!...

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Manhãs da Comercial fazem resumo do ano 2011.


"Prémio" atribuído também a Passos e Portas Bloco de Esquerda entrega a Américo Amorim taça de Melhor Trabalhador do Ano .


O gesto irónico tem por base as declarações de Américo Amorim quando, a propósito da possibilidade de se aumentarem os impostos sobre as grandes fortunas, declarou publicamente: "Não me considero rico. Sou trabalhador."

Para o deputado do Bloco pelo distrito de Aveiro, a distinção do empresário de Mozelos, em Santa Maria da Feira, era inevitável. "Na altura de todos os balanços de 20011, vemos efectivamente que tinha que ser ele o premiado", explica Pedro Filipe Soares. "É o homem mais rico de Portugal e insultou os portugueses porque, quando se pediam sacrifícios, dizia que era apenas mais um trabalhador".

O parlamentar do BE realça ainda que, na prática, Américo Amorim é também "o premiado das políticas do Governo", na medida em que actualmente se pedem mais impostos aos portugueses, mas o industrial, "na sua engenharia financeira da fuga das SGPS, tem mais benefícios fiscais". "Este prémio também simboliza, por isso, as escolhas de Passos Coelho e Paulo Portas", declara Pedro Filipe Soares.

Nota: E devia levar também um "penico"...

EDP - ELETLECIDADE DE POLTUGAL


A paltil de Janeilo pala sua maiol comodidade pague as fatulas da EDP num dos muitos milhales de postos de coblança existentes no Pais .... A LOJA DO CHINÊS MAIS PLÓXIMA !!!!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Centenário do nascimento de Alves Redol celebra-se hoje


O centenário do nascimento do escritor Alves Redol, um dos mais importantes nomes do Neorrealismo português, é hoje assinalado em Vila-Franca de Xira com uma sessão evocativa, pelas 18:30, no Museu do Neo-Realismo.

A efeméride tem vindo a ser celebrada ao longo do ano pelo museu com exposições, exibição de filmes e leituras encenadas, e irá prolongar-se até janeiro de 2012 com a atribuição de um prémio com o nome do autor e com a realização de um congresso internacional em Lisboa.

Hoje, dia em que se completam cem anos do nascimento, o Ateneu Artístico Vilafranquense organiza uma arruada pela cidade até ao local onde de encontra a estátua de Alves Redol, com a atuação da Banda do Ateneu.

"Zé Carramilo encostou-se ao ombro do pai, num sorriso de mistério.
Uma rã chapinhou no lodo do regato, assustada com a queda de uma folha. O badalar do chocalho da égua cortava o silêncio, a espaços.
- E depois? - perguntou o rapaz. - Os meninos moram no fundo da água guardados por um peixe grande.
- Os meninos todos?
- Não. Só os filhos dos pescadores. Nascem na água e muitos morrem na água.
- E eu?
- Tu também. Pedi que te mandassem e vieste." (do livro "Avieiros").

Nota: Leiam as suas obras e saibam o que é a vida de um povo.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

São todos assim... Não é?

Nobel da Economia: Portugal ou Grécia podem querer sair do euro e a UE tem de se preparar...


Os líderes europeus têm de fazer o seu trabalho para combater a crise, mas há uma hipótese que devem ter em mente: a eventualidade de Portugal ou a Grécia dizerem expressamente que querem abandonar a zona euro. O alerta é deixado pelo economista norte-americano Michael Spence, um dos laureados com o Nobel da Economia em 2001, admitindo que os dois países intervencionados vejam que é melhor para si abandonar a moeda única.

Nota: Estamos rodeados de "amigos" por todos os lados...

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

"Lagosta à moda da Troika".

Sem comentários!...

Moeda chinesa bate recorde contra dólar americano.

A moeda chinesa voltou hoje a bater um recorde face ao dólar, com a moeda norte-americana a valer apenas 6,3152 yuan, de acordo com a cotação anunciada pelo banco central da China.

Destak/Lusa | destak@destak.pt

O último recorde da moeda chinesa estava fixado em 6,3165 yuan contra cada dólar, um valor alcançado a 04 de novembro, o que traduz, agora, uma variação de 13 pontos base.

A subida do yuan contra o dólar ilustra a "gradual valorização" do yuan prometida pela China em 2010, em resposta às crescentes pressões ocidentais, sobretudo norte-americanas.

Na altura um dólar valia 6,83 yuan e desde então, a moeda chinesa valorizou-se quase oito por cento em relação à moeda norte-americana.

Só em 2011, a moeda chinesa já se valorizou contra o dólar americano quase 4,5 por cento.

Este país não é para corruptos.



Em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer


... Que Portugal é um país livre de corrupção sabe toda a gente que tenha lido a notícia da absolvição de Domingos Névoa. O tribunal deu como provado que o arguido tinha oferecido 200 mil euros para que um titular de cargo político lhe fizesse um favor, mas absolveu-o por considerar que o político não tinha os poderes necessários para responder ao pedido. Ou seja, foi oferecido um suborno, mas a um destinatário inadequado. E, para o tribunal, quem tenta corromper a pessoa errada não é corrupto - é só parvo. A sentença, infelizmente, não esclarece se o raciocínio é válido para outros crimes: se, por exemplo, quem tenta assassinar a pessoa errada não é assassino, mas apenas incompetente; ou se quem tenta assaltar o banco errado não é ladrão, mas sim distraído. Neste último caso a prática de irregularidades é extraordinariamente difícil, uma vez que mesmo quem assalta o banco certo só é ladrão se não for administrador.
O hipotético suborno de Domingos Névoa estava ferido de irregularidade, e por isso não podia aspirar a receber o nobre título de suborno. O que se passou foi, no fundo, uma ilegalidade ilegal. O que, surpreendentemente, é legal. Significa isto que, em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer. É preciso saber fazer as coisas bem feitas e seguir a tramitação apropriada. Não é ato que se pratique à balda, caso contrário o tribunal rejeita as pretensões do candidato. "Tenha paciência", dizem os juízes. "Tente outra vez. Isto não é corrupção que se apresente.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Mas que raio de exemplo é este?


Apesar de não haver tolerância de ponto, a conferência de líderes não agendou para hoje a habitual reunião plenária de todas as sextas--feiras de manhã.

Os deputados encerraram ontem os trabalhos parlamentares de 2011 e as comissões e plenários só serão retomados a 3 de Janeiro de 2012, segundo a agenda da Assembleia da República.

Nota: Tenham vergonha na cara!...

De efeito prolongado!...

Back to reality!


A venda da EDP está decidida. A operação foi feita pelo buraco da agulha e garante ao Estado português um encaixe financeiro irrepetível. É muito dinheiro. É muita política. É muito lóbi. É, curiosamente, pouca a polémica entre os cidadãos. E é mais do que parece: são os credores a tomar a propriedade.

Quando explicar as razões da sua escolha, o Governo dirá que foi feito o melhor negócio para o Estado, escolhido o melhor parceiro para a empresa e garantido o melhor futuro para o País. Na verdade, todas as propostas finais eram boas e o Governo fará de conta que escolheu sem considerações políticas. O que será, obviamente, falso. O dono da EDP não foi escolhido num "teste cego". Não só porque a nacionalidade é obviamente importante mas também porque há muitos factores moles em cima dos números duros. As contrapartidas para o Estado. E as represálias para o Estado.

Todos foram favoritos, ao longo do processo. Primeiro a Eletrobras, depois a E.ON, no fim a Three Gorges. Todos cometeram erros. Erros que vão ficar para a história, que será contada pelos vencedores. Entre esses vencedores estará o Estado português, que vende 50% acima do preço de mercado, e a administração da EDP, que preparou o processo nos últimos meses.
...
Na ponta final, os chineses passaram a favoritos. Porque põem um saco de dinheiro na empresa, no Estado e na economia portuguesa, criam uma fábrica e prometem apoiar a banca. Foram, de todos, os que menos erros parecem ter cometido, embora não tenham resistido a criticar o noticiário nos jornais portugueses. É natural que os chineses não se dêem bem com a imprensa livre: só a conhecem de longe.
Artigo de: Pedro santos Guerreiro

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Feliz Natal

Sorriso Amarelo.

Clinton: "Obama não deve descartar opção militar"


O ex-presidente norte-americano Bill Clinton afirmou que Barack Obama não deverá descartar a opção militar contra o programa nuclear do Irão, segundo excertos de uma entrevista à Fox News.

"Não creio que o presidente deva deixar nenhuma opção militar fora da mesa", comentou Clinton na entrevista que será transmitida ainda quarta-feira (manhã de quinta-feira em Lisboa) nos Estados Unidos.

Não obstante, explicou, lidar com o Irão e o seu programa nuclear "é complicado" e acrescentou que podem haver outras maneiras diferentes da militar para solucionar o caso.

Na opinião de Bill Clinton, presidente dos Estados Unidos entre 1993 e 2001, "seria uma loucura" que os iranianos decidissem lançar uma arma nuclear "porque todo o seu país", afirmou, "desapareceria".

Leon Panetta, Secretário da Defesa, tinha afirmado segunda-feira que os Estados Unidos irão fazer tudo o que for necessário, incluindo uma intervenção militar, para evitar que o Irão desenvolva uma arma nuclear.

Nota: Está-se a acabar o Iraque... voltam-se as "baterias" para o Irão.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Encontraram o pai do monstro.


À medida que a crise avança na sociedade portuguesa, ferindo como uma lâmina os mais frágeis (Portugal tem 2,5 milhões de trabalhadores que ganham entre 700 e 800 euros e as medidas de austeridade vão transformá-los em novos pobres, informava o “Público”), anda meio mundo à procura da paternidade do monstro, aquele que, dizem, engravidou o Estado de funcionários públicos e afins. E falam dele, uns como entidade abstracta, como faz o Primeiro-Ministro, Passos Coelho, outros como um fenómeno mais difícil de encontrar do que o de Loch Ness, o outro monstro do nosso imaginário literário e do cinema.

Afadigam-se nessa tarefa ciclópica, colossal, de pesquisar a realidade, e muitos são incapazes de decifrar os mistérios insondáveis por onde o monstro escapa, apesar dos vestígios materiais da sua presença serem muitos e variados.

Vasco Pulido Valente, que é bom detective e percebe os movimentos pendulares da sociedade portuguesa, caracterizou não só a tipologia do monstro – como descobriu o pai da extravante criatura.

O analista lembrou que “Passos Coelho, num acesso incompreensível, sugeriu que se investigasse quem “estava na origem” de “encargos” para a sociedade portuguesa que obviamente se não podiam sustentar e defendeu a responsabilização dos culpados”.

Como quem esclarece quem é o pai da criança, Vasco Pulido Valente escreve: “Em meados de 2005, Miguel Cadilhe acusou Cavaco de ser o principal culpado pelo aumento da “massa salarial da função pública”, que já representava naquela altura 15 por cento do PIB. Pior ainda, Cadilhe denunciou Cavaco como o inspirador “directo” do monstro e seu “pai” quase exclusivo.

Como se vê, Pedro Passos Coelho escusa de se cansar na sua simpática procura da “origem” e dos “culpados” da crise. Basta que se meta no carro e pergunte em Belém pelo sr. Presidente da República, se ele não andar ocupado a tratar do monstro, com que na aparência se reconciliou. Afinal de contas, por feio e repugnante que pareça, o monstro é filho dele. Muito dele.” Está desfeito o mistério.Estamos safos.

Fernando Paulouro Neves

imagem do blog: WeHaveKaosInTheGarden

Cão raivoso


Canção do álbum À queima roupa de 74
letra:


Mais vale ser um cão raivoso
do que um carneiro
a dizer que sim ao pastor
o dia inteiro
e a dar-lhe de lã e da carne e da vida
e do traseiro
mais vale ser diferente do carneiro
um cão raivoso que sabe onde ferra
olhos atentos e patas na terra.

Viva o cão raivoso
tem o pelo eriçado
seu dente é guloso
e o seu faro ajustado
Cão raivoso, cão raivoso, cuidado.

Mais vale ser um cão raivoso
que um caranguejo
que avança e recua e depois
solta um bocejo
e que quando fala só se houve a garganta
no gargarejo
mais vale não ser como o caranguejo
um cão raivoso que sabe onde ferra
olhos atentos e patas na terra.

Viva o cão raivoso
tem o pelo eriçado
seu dente é guloso
e o seu faro ajustado
Cão raivoso, cão raivoso, cuidado.

Mais vale ser um cão raivoso
que uma sardinha
metida, entalada na lata
educadinha
pronta a ser comida, engolida, digerida
e cagadinha
Mais vale ser diferente da sardinha
um cão raivoso que sabe onde ferra
ferra fascistas e chama-lhe um figo
olhos atentos e patas na terra.

Viva o cão raivoso
tem o pelo eriçado
seu dente é guloso
e o seu faro ajustado
Cão raivoso, cão raivoso, cuidado.

Mais vale ser um cão raivoso
dentes à mostra
estar sempre pronto a morder
e a dar resposta
a toda e qualquer podridão escondida
dentro da crosta
dentro da crosta das belas ideias
gato escondido de rabo de fora
dentro da crosta das belas ideias
gato escondido de rabo de fora.

A primeira do dia!... Com a raiva nos dentes...


Exmo Senhor Primeiro Ministro

Começo por me apresentar, uma vez que estou certa que nunca ouviu falar de mim. Chamo-me Myriam. Myriam Zaluar é o meu nome "de guerra". Basilio é o apelido pelo qual me conhecem os meus amigos mais antigos e também os que, não sendo amigos, se lembram de mim em anos mais recuados.

Nasci em França, porque o meu pai teve de deixar o seu país aos 20 e poucos anos. Fê-lo porque se recusou a combater numa guerra contra a qual se erguia. Fê-lo porque se recusou a continuar num país onde não havia liberdade de dizer, de fazer, de pensar, de crescer. Estou feliz por o meu pai ter emigrado, porque se não o tivesse feito, eu não estaria aqui. Nasci em França, porque a minha mãe teve de deixar o seu país aos 19 anos. Fê-lo porque não tinha hipóteses de estudar e desenvolver o seu potencial no país onde nasceu. Foi para França estudar e trabalhar e estou feliz por tê-lo feito, pois se assim não fosse eu não estaria aqui. Estou feliz por os meus pais terem emigrado, caso contrário nunca se teriam conhecido e eu não estaria aqui. Não tenho porém a ingenuidade de pensar que foi fácil para eles sair do país onde nasceram. Durante anos o meu pai não pôde entrar no seu país, pois se o fizesse seria preso. A minha mãe não pôde despedir-se de pessoas que amava porque viveu sempre longe delas. Mais tarde, o 25 de Abril abriu as portas ao regresso do meu pai e viemos todos para o país que era o dele e que passou a ser o nosso. Viemos para viver, sonhar e crescer.

Cresci. Na escola, distingui-me dos demais. Fui rebelde e nem sempre uma menina exemplar mas entrei na faculdade com 17 anos e com a melhor média daquele ano: 17,6. Naquela altura, só havia três cursos em Portugal onde era mais dificil entrar do que no meu. Não quero com isto dizer que era uma super-estudante, longe disso. Baldei-me a algumas aulas, deixei cadeiras para trás, saí, curti, namorei, vivi intensamente, mas mesmo assim licenciei-me com 23 anos. Durante a licenciatura dei explicações, fiz traduções, escrevi textos para rádio, coleccionei estágios, desperdicei algumas oportunidades, aproveitei outras, aprendi muito, esqueci-me de muito do que tinha aprendido.

Cresci. Conquistei o meu primeiro emprego sozinha. Trabalhei. Ganhei a vida. Despedi-me. Conquistei outro emprego, mais uma vez sem ajudas. Trabalhei mais. Saí de casa dos meus pais. Paguei o meu primeiro carro, a minha primeira viagem, a minha primeira renda. Fiquei efectiva. Tornei-me personna non grata no meu local de trabalho. "És provavelmente aquela que melhor escreve e que mais produz aqui dentro." - disseram-me - "Mas tenho de te mandar embora porque te ris demasiado alto na redacção". Fiquei.

Aos 27 anos conheci a prateleira. Tive o meu primeiro filho. Aos 28 anos conheci o desemprego. "Não há-de ser nada, pensei. Sou jovem, tenho um bom curriculo, arranjarei trabalho num instante". Não arranjei. Aos 29 anos conheci a precariedade. Desde então nunca deixei de trabalhar mas nunca mais conheci outra coisa que não fosse a precariedade. Aos 37 anos, idade com que o senhor se licenciou, tinha eu dois filhos, 15 anos de licenciatura, 15 de carteira profissional de jornalista e carreira 'congelada'. Tinha também 18 anos de experiência profissional como jornalista, tradutora e professora, vários cursos, um CAP caducado, domínio total de três línguas, duas das quais como "nativa". Tinha como ordenado 'fixo' 485 euros x 7 meses por ano. Tinha iniciado um mestrado que tive depois de suspender pois foi preciso escolher entre trabalhar para pagar as contas ou para completar o curso. O meu dia, senhor primeiro ministro, só tinha 24 horas...

Cresci mais. Aos 38 anos conheci o mobbying. Conheci as insónias noites a fio. Conheci o medo do amanhã. Conheci, pela vigésima vez, a passagem de bestial a besta. Conheci o desespero. Conheci - felizmente! - também outras pessoas que partilhavam comigo a revolta. Percebi que não estava só. Percebi que a culpa não era minha. Cresci. Conheci-me melhor. Percebi que tinha valor.

Senhor primeiro-ministro, vou poupá-lo a mais pormenores sobre a minha vida. Tenho a dizer-lhe o seguinte: faço hoje 42 anos. Sou doutoranda e investigadora da Universidade do Minho. Os meus pais, que deviam estar a reformar-se, depois de uma vida dedicada à investigação, ao ensino, ao crescimento deste país e das suas filhas e netos, os meus pais, que deviam estar a comprar uma casinha na praia para conhecerem algum descanso e descontracção, continuam a trabalhar e estão a assegurar aos meus filhos aquilo que eu não posso. Material escolar. Roupa. Sapatos. Dinheiro de bolso. Lazeres. Actividades extra-escolares. Quanto a mim, tenho actualmente como ordenado fixo 405 euros X 7 meses por ano. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. A universidade na qual lecciono há 16 anos conseguiu mais uma vez reduzir-me o ordenado. Todo o trabalho que arranjo é extra e a recibos verdes. Não sou independente, senhor primeiro ministro. Sempre que tenho extras tenho de contar com apoios familiares para que os meus filhos não fiquem sozinhos em casa. Tenho uma dívida de mais de cinco anos à Segurança Social que, por sua vez, deveria ter fornecido um dossier ao Tribunal de Família e Menores há mais de três a fim que os meus filhos possam receber a pensão de alimentos a que têm direito pois sou mãe solteira. Até hoje, não o fez.

Tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: nunca fui administradora de coisa nenhuma e o salário mais elevado que auferi até hoje não chegava aos mil euros. Isto foi ainda no tempo dos escudos, na altura em que eu enchia o depósito do meu renault clio com cinco contos e ia jantar fora e acampar todos os fins-de-semana. Talvez isso fosse viver acima das minhas possibilidades. Talvez as duas viagens que fiz a Cabo-Verde e ao Brasil e que paguei com o dinheiro que ganhei com o meu trabalho tivessem sido luxos. Talvez o carro de 12 anos que conduzo e que me custou 2 mil euros a pronto pagamento seja um excesso, mas sabe, senhor primeiro-ministro, por mais que faça e refaça as contas, e por mais que a gasolina teime em aumentar, continua a sair-me mais em conta andar neste carro do que de transportes públicos. Talvez a casa que comprei e que devo ao banco tenha sido uma inconsciência mas na altura saía mais barato do que arrendar uma, sabe, senhor primeiro-ministro. Mesmo assim nunca me passou pela cabeça emigrar...

Mas hoje, senhor primeiro-ministro, hoje passa. Hoje faço 42 anos e tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: Tenho mais habilitações literárias que o senhor. Tenho mais experiência profissional que o senhor. Escrevo e falo português melhor do que o senhor. Falo inglês melhor que o senhor. Francês então nem se fale. Não falo alemão mas duvido que o senhor fale e também não vejo, sinceramente, a utilidade de saber tal língua. Em compensação falo castelhano melhor do que o senhor. Mas como o senhor é o primeiro-ministro e dá tão bons conselhos aos seus governados, quero pedir-lhe um conselho, apesar de não ter votado em si. Agora que penso emigrar, que me aconselha a fazer em relação aos meus dois filhos, que nasceram em Portugal e têm cá todas as suas referências? Devo arrancá-los do seu país, separá-los da família, dos amigos, de tudo aquilo que conhecem e amam? E, já agora, que lhes devo dizer? Que devo responder ao meu filho de 14 anos quando me pergunta que caminho seguir nos estudos? Que vale a pena seguir os seus interesses e aptidões, como os meus pais me disseram a mim? Ou que mais vale enveredar já por outra via (já agora diga-me qual, senhor primeiro-ministro) para que não se torne também ele um excedentário no seu próprio país? Ou, ainda, que venha comigo para Angola ou para o Brasil por que ali será com certeza muito mais valorizado e feliz do que no seu país, um país que deveria dar-lhe as melhores condições para crescer pois ele é um dos seus melhores - e cada vez mais raros - valores: um ser humano em formação.

Bom, esta carta que, estou praticamente certa, o senhor não irá ler já vai longa. Quero apenas dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: aos 42 anos já dei muito mais a este país do que o senhor. Já trabalhei mais, esforcei-me mais, lutei mais e não tenho qualquer dúvida de que sofri muito mais. Ganhei, claro, infinitamente menos. Para ser mais exacta o meu IRS do ano passado foi de 4 mil euros. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. No ano passado ganhei 4 mil euros. Deve ser das minhas baixas qualificações. Da minha preguiça. Da minha incapacidade. Do meu excedentarismo. Portanto, é o seguinte, senhor primeiro-ministro: emigre você, senhor primeiro-ministro. E leve consigo os seus ministros. O da mota. O da fala lenta. O que veio do estrangeiro. E o resto da maralha. Leve-os, senhor primeiro-ministro, para longe. Olhe, leve-os para o Deserto do Sahara. Pode ser que os outros dois aprendam alguma coisa sobre acordos de pesca.

Com o mais elevado desprezo e desconsideração, desejo-lhe, ainda assim, feliz natal OU feliz ano novo à sua escolha, senhor primeiro-ministro

e como eu sou aqui sem dúvida o elo mais fraco, adeus

Myriam Zaluar, 19/12/2011

Foto: Myriam Zaluar