sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O boneco do dia do KAOS.


Os herdeiros da desigualdade.


Já há muito se sabe que surtos de crescimento económico rápido podem aumentar a desigualdade: a China e a Índia são os mais recentes exemplos. Mas poderão o crescimento lento e a desigualdade crescente – as duas características mais salientes das economias desenvolvidas nos dias de hoje – estar também ligados?

Essa é a intrigante hipótese de um estudo recente do economista francês Thomas Piketty da Escola de Economia de Paris. Piketty desenvolveu alguns dos mais importantes trabalhos sobre desigualdade em anos recentes.

Tirando partido da precisão burocrática francesa, Piketty conseguiu reconstruir as contas nacionais francesas por mais de dois séculos. A economia de 1820 até à I Guerra Mundial – uma espécie de segundo ancien regime – tinha duas características notáveis: crescimento lento – cerca de 1% ao ano – e uma porção desmedida de riqueza herdada, responsável por cerca de 20-25% do PIB.

A ligação entre crescimento lento e a importância da herança, argumenta Piketty, não era coincidência: com a riqueza herdada a render 2-3% ao ano e os novos investimentos apenas 1%, a mobilidade social era extremamente limitada e a estratificação era encorajada.

Isso começou a mudar com a 1ª GG, quando o crescimento descolou – uma tendência que acelerou bastante depois da II Guerra Mundial. Com uma taxa de crescimento económico anual tão alta como 5% durante o boom pós-1945, a riqueza herdada encolheu para apenas 5% do PIB francês, dando início a um período de mobilidade relativa e de igualdade. Ominosamente, no entanto, durante as últimas duas décadas de crescimento lento, a riqueza herdada recuperou até cerca de 12% da economia francesa.

Este padrão deveria causar preocupação, porque o crescimento anual do PIB da zona euro durante a última década foi em média de 1%. Similarmente, o crescimento anual médio nos Estados Unidos abrandou de cerca de 4% entre 1870 e 1973 para cerca de 2% desde então.

Joseph Stiglitz, o economista agraciado com o Prémio Nobel, também acredita que o baixo crescimento e a desigualdade estão interligados, mas acredita que a relação causal se move na direcção oposta. Como defendeu numa entrevista recente: “Penso que é a desigualdade que está a causar o crescimento lento.” No seu novo livro O Preço da Desigualdade, ele escreve que, “a Política moldou o mercado, e fê-lo de tal forma que dá vantagens a quem está no topo a custo dos outros”. A maximização do lucro, a capacidade das elites consolidadas de distribuírem recursos entre si e abafar oportunidades para os outros, invariavelmente leva a um mercado menos competitivo e a um menor crescimento.

Crónica de Alexander Stille

Taxa de desemprego fixou-se nos 15,7% em Julho. Ministro diz que é preocupante.


A taxa de desemprego em Portugal atingiu os 15,7 por cento em julho, valor idêntico a junho, enquanto na Zona Euro e no conjunto da União Europeia se manteve nos 11,3 e 10,4 por cento, respetivamente, revelou hoje o Eurostat.

O ministro da Economia já reagiu aos novos números do desemprego, considerando-os preocupantes e garante que o governo não "pode baixar os braços" no combate ao problema.

Nota: O ministro considera preocupante a taxa de desemprego. Mas será que ninguém tem “vergonha na cara”? Pelos vistos não…

Gaspar apresenta à troika novo plano de cortes.


Documento apresenta uma forte redução da despesa pública que irá ser levada a cabo nos próximos dois anos.

O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, vai apresentar aos peritos da troika um programa para acelerar as reformas estruturais e cortar mais na despesa do Estado, avança o “Sol”.

A chamada Agenda de Transformação Estrutural passará por um programa de forte redução da despesa pública nas áreas da Segurança Social, Educação, Saúde, Defesa e Forças de Segurança.

As medidas vão estar inscritas no Orçamento do Estado para o próximo ano e prevêem a extinção de serviços e a redução de funcionários através de rescisões amigáveis.

Segundo o mesmo jornal, o documento que foi elaborado pelo Ministério de Vítor Gaspar e com contributo de outros gabinetes, “aponta para uma forte redução da despesa pública a ser concretizada nos próximos dois anos” e deverá ser levado a Conselho de Ministros no próximo mês de Novembro para aprovação final.

No entanto, “algumas das medidas contempladas terão de estar inscritas no Orçamento do Estado para 2013, que será apresentado no Parlamento até 15 de Outubro”.

Com estas medidas, que visam reduzir mais a despesa do Estado e aumentar a receita, “o Governo espera conseguir resultados em 2013 que permitam, por exemplo, não ter de recorrer à sobretaxa sobre o 13.º mês de todos os trabalhadores em Portugal”.

Nota: Não será altura de “extinção” deste (des)governo?

Putin destina 566 mil milhões de euros à defesa.


O Presidente russo Vladimir Putin anunciou hoje a canalização de 566 mil milhões de euros para a indústria de defesa nos próximos 10 anos, definida como um "impulso" ao rearmamento da Rússia semelhante ao ordenado por Estaline na década de 1930.

"É necessário promover um impulso tão importante na modernização da indústria de defesa como o registado nos anos de 1930", declarou Putin, citado pela agência Interfax, no decurso de uma reunião do Conselho de segurança da Rússia.

O líder do Kremlin anunciou que o Estado vai canalizar 23 biliões de rublos (566,96 milhões de euros) nos próximos dez anos, uma verba sem precedentes, para o programa público de armamento e de rearmamento das Forças Armadas da federação.

Entre 1930 e 1939, Josef Estaline ordenou um vasto programa de rearmamento da então União Soviética.

Em simultâneo, a década de 1930 foi caracterizada pela fase mais mortífera da repressão estalinista, incluindo nos meios militares, com a decapitação da "velha guarda" do Exército Vermelho através da execução ou envio para campos de concentração de milhares de oficiais soviéticos.

Nota: Voltamos à “vaca fria”… perdão guerra fria?

Há despesa para além da função pública.


Os olhares sobre as soluções da crise dependem do observador e do local em que se encontra. Um lugar comum para todas as realidades do quotidiano que assume uma importância especial quando estão em causa decisões que afectam a vida das outras pessoas.

A decisão de políticas públicas, pelo que já se sabe hoje sobre o enviesamento de que todos sofremos na leitura da realidade, deve ser o resultado de contributos conjuntos de especialistas e de políticos. Devendo caber a última palavra aos políticos que, por sua vez, devem evitar soluções demasiado marcadas por convicções ideológicas pouco sustentadas em evidência empírica. Nem tudo o que se decide deve ser totalmente justificado por estudos, porque os estudos são muitas vezes resultado de metodologias que reflectem o estádio em que está o conhecimento. Mas não se devia decidir sem estudar.

E é chegados aqui que muitas vezes somos obrigados a suspeitar que muito do que se decide ou muito do que se orienta no discurso público é baseado em convicções e não em análises ou estudos. Essas leituras da realidade são em geral enviesadas porque são construídas com o sistema do cérebro que "pensa depressa" - como lhe chama o nobel da Economia, Daniel Kahneman, no seu livro "Pensar, depressa e devagar". Influenciadas por valores acumulados ao longo da vida e pelo instinto de auto-defesa, na maioria dos casos todos nós acabamos por construir narrativas da realidade e soluções para os problemas que reflectem esses enviesamentos.

Só a soma de "estudar, estudar e estudar" com "trabalhar, trabalhar e trabalhar" - como dizia Ernâni Lopes - nos protege desses erros de análise que nos conduzem a soluções erradas para os problemas.

Esta é uma reflexão que é válida para todas as decisões mas que, neste momento, vem especialmente a propósito do discurso e das convicções sobre o Estado, a despesa pública e a Administração Pública em Portugal.

A raiz do problema da administração pública que temos hoje está, no que à sua competência diz respeito, na partidarização iniciada nos primeiros anos da democracia, com PS primeiro e PSD depois. E no que aos custos diz respeito, a raiz está no então chamado Novo Sistema Retributivo da Função Pública colocado em prática pelo actual Presidente da República e depois reforçado, nas suas despesas, pelo então primeiro-ministro do PS, António Guterres. Os dois grandes partidos do poder têm enormes responsabilidades neste domínio e deveriam, por isso, sentir-se obrigados a encontrar uma solução de consenso para estes dois problemas.

Mas o problema financeiro do Estado está muito longe de se esgotar no problema da função pública, seus custos e suas competências. Provado ao contrário, se a função pública não fosse competente, hoje teríamos mais criminalidade, mais analfabetismo e menos receita fiscal, só para citar alguns casos.

Um dos problemas financeiros do Estado, tão ou mais importante do que os erros de gestão de recursos humanos, está nos investimentos e contratos realizados com benefício do sector privado. O caso mais simples de relatar é o das Parcerias Público-Privadas no sector rodoviário.

Há mais despesas para a cortar, e essa sim estrutural, que vai para além dos gastos com salários da função pública.

Crónica de Helena Garrido.

Álvaro Santos Pereira reafirma intenção de privatizar a TAP e a ANA até ao final do ano.


O ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira reafirma a pretensão de privatizar a TAP e a ANA até ao final do ano.

À margem de uma visita às minas de Aljustrel, Álvaro Santos Perreia recordou que ontem foi aprovado em Conselho de Ministros o processo de privatização da ANA e que, no caso da TAP “já temos manifestações de interesse”.

O ministro da Economia recusou-se, contudo, a adiantar de quem são e quantas são essas intenções, dizendo que estes assuntos requerem “alta confidencialidade”.

Álvaro Santos Pereira afirmou ainda que os dois processos estão a decorrer de acordo com o planeado, decorrendo em paralelo.
Depois de aprovar a privatização da TAP, na primeira semana de Agosto, o Executivo enviou para 15 interessados “Information Memorandum". Este é um primeiro documento que está a ser entregue aos investidores potencialmente interessados na compra da empresa e contém informação sobre a companhia, sobretudo ao nível financeiro e de negócio. No entanto, só no caderno de encargos é que estarão já explícitas as condições exigidas pela parte vendedora, que os potenciais compradores terão de respeitar.

O ministro recusou-se a comentar os cortes avançados hoje pelo jornal “Sol” de funcionários públicos nas áreas da Segurança Social, Defesa, Saúde e Educação, como também não quis comentar o ponto de situação da quinta análise da troika ao programa de ajuda financeira a Portugal.

Nota: E quando não houver mais nada para vender… Como é que vai ser? Soluções destas até um menino da primária conseguia…

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Até breve!...

Boneco do dia do KAOS.

Juventude de hoje corre o risco de ser uma "geração perdida", diz Ban Ki-moon.


O secretário-geral das Nações Unidas alertou hoje que a juventude atual, particularmente afetada pela crise económica mundial, corre o risco de se transformar numa "geração perdida" se não forem tomadas medidas urgentes.

Numa mensagem a propósito do Dia Internacional da Juventude, que se assinala no domingo, Ban Ki-moon apela por isso aos governos, ao setor privado, à sociedade civil e às universidades que "abram as portas" aos jovens e reforcem parcerias com organizações lideradas por jovens.

"Vamos apoiar os jovens do nosso mundo para que eles se tornam adultos que criem gerações de líderes ainda mais produtivos e poderosos", diz o secretário-geral.

Para o responsável máximo da ONU, a atual geração de jovens é a maior que o mundo jamais conheceu, mas muitos, "incluindo aqueles que são altamente qualificados, têm salários muito baixos, estão em empregos sem futuro ou desempregados".

Nota: E por culpa de quem? Hum?!

Horário zero!...

Coisas comuns do espírito comum.


Lê-se nos jornais e ouve-se nas televisões que a Espanha está à beira de pedir dinheiro emprestado à Europa, acabando com a arrogância dos seus dirigentes, segundo os quais o país não precisa de abonos, assim entendidos. A Espanha sempre se assumiu com a valentia de quem sabe o que quer. E basta conhecer um pouco da guerra civil para se perceber esse sentimento de galhardia, que não permite nenhuma espécie de humildade. Mas é claro que o país do lado tem dificuldades tremendas. E tudo indica que, dentro de breve tempo, pedirá dinheiro emprestado.

Entretanto, espanta-me esse gozo lascivo e tolo com que a comunicação social todos os dias, a toda a hora, anuncia o infortúnio espanhol. Como se o chamado "efeito sistémico" não atingisse outros países, o nosso sobretudo. Mas a inveja pelo vizinho é de longa data. E, pior que tudo, dissimulamo-la com o cinismo e a hipocrisia de quem aguarda o pior. E não há um jornal, um só jornal, ou uma televisão, uma só televisão, que advirtam, esclareçam, comentem, a mão ser superficialmente, o dramático problema espanhol.

Gosto de Espanha e dos espanhóis. Gosto de um número significativo de autores, de cineastas e de actores, de pintores e de arquitectos. Incomoda-me esta pequena abjecção portuguesa, esta tendência para o mesquinho na mesquinhez, como dizia um velho amigo. Na medida directa das nossas dimensões, também temos grandes arquitectos, grandes pintores, grandes poetas e grandes cineastas. Temos a tineta de nos pôr nos bicos dos pés, quando, de facto, não precisávamos. Claro que, ao lado, há grandes jornais e grandes jornalistas; basta frequentar "El País" e "El Mundo", pelo menos, para nos apercebermos da diferença. Acresce que qualquer destes periódicos não oculta nem dissimula as suas tendências políticas e ideológicas. E, pelo facto de assim procederem, nem por isso perdem a credibilidade e a tiragem.

"El País" é notoriamente afecto ao PSOE e às características da Esquerda. "El Mundo", claramente de Direita. Leio ambos, amiúde, com proveito e aprazimento. "El País" é, certamente, um dos grandes e mais respeitados periódicos europeus, tal qual "Le Monde", em França, de cunho de Esquerda; e "Le Figaro", de Direita. Também os leio com prazer e benefício. Independentemente de serem isto ou aquilo, eles são grandes jornais com grandes jornalistas, e com colaboradores de alto coturno, cujas visões e interpretações ajudam os leitores e reflectir melhor.

Em Portugal, a grande rábula da "independência", da "imparcialidade" e da "neutralidade" não passa de isso mesmo: uma rábula; mas uma rábula perigosa porque oculta a natureza verdadeira dos periódicos, aliás quase todos vinculados ao "pensamento único" e à "razão dominante". E demonstram que não sabemos olhar por nós; quero dizer: não nos ensinam a escolher, a descobrir que somos o mesmo e outro. Saber olhar por nós significa que, ao contrário dos espanhóis, por exemplo, deixamo-nos ir nas aparências. Se falo nos periódicos referidos, reparem, é porque nenhum deles é parecido: cada qual possui uma personalidade própria, e trata os seus leitores como pessoas crescidas. Certa ocasião, "Le Monde" fez uma pergunta embaraçosa para si mesmo: para que serve este jornal? A súmula foi constituída pelo seguinte: porque somos necessários. Vocês, pios leitores, acham mesmo que todos os jornais portugueses são, tal como se apresentam, indispensáveis?

Também "Le Monde" tomou, aberta e declaradamente, partido pela eleição de Mitterrand. Teríamos, aqui, a coragem moral de proceder semelhantemente?

A inveja ressentida que nutrimos reflecte a nossa incapacidade de nos reconstruirmos. Somos diariamente mentidos, bombardeados com falsidades, conhecemos os escândalos privados e ignoramos as públicas virtudes, e, no entanto, caímos sempre nas esparrelas que nos montam. Com três excepções, não mais, e não revelo, por enquanto, os seus nomes, os "analistas" políticos obedecem, serventuariamente, ao pensamento dominante; e até talvez não saibam a dimensão da sua servidão. O que é pior, pois denota ignorância e revela uma alucinante falta de seriedade. Eles não arriscam não só porque não sabem: não querem chatices. Mas demonstram grande contentamento.

"Inter lusitanus envidia norma est". Escreveu o general Galba, num relatório encomendado por Nelo, acerca do que se passava na província. A pecha mantém-se, cada vez mais robusta. Regozijamo-nos com os desaires do vizinho; com o facto de um velho amigo ter perdido o emprego; cumprimos os rituais da caridade cristã colocando no saco contra a fome uma garrafa de azeite e uma embalagem de arroz. Perdemos a decência, essa é que é essa. E não vejo que, nos tempos mais próximos, consumidos pelo infortúnio, esgarçados pela desgraça, consigamos mudar o destino. Desculpem, estes desabafos, mas eles pertencem ao espírito comum.

Crónica de Baptista Bastos.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Boneco do dia do KAOS.

Crescimento das exportações cai quase para metade no segundo trimestre.


De acordo com os dados hoje divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), as exportações de bens aumentaram 6,8% no segundo trimestre, enquanto as importações diminuíram 8,3%. Isto permitiu um desagravamento do défice da balança comercial de 1973,1 milhões de euros. O saldo entre exportações e importações ronda agora os 2351,8 milhões de euros.

No primeiro trimestre do ano, as exportações tinham crescido praticamente o dobro: 11,5%. Com o agravamento da crise da dívida e com a deterioração económica nos nossos principais parceiros comerciais, que fazem parte da zona euro, as vendas ao exterior cresceram 6,8% entre Abril e Junho. Paralelamente, a quebra acentuada do consumo e do investimento está a ampliar a queda das importações: depois de uma diminuição de 2,4% no primeiro trimestre, as compras de bens ao exterior estão agora a cair 8,3%.

A desaceleração das exportações nacionais está a fazer-se sentir tanto no comércio intracomunitário como para fora da União Europeia. Depois de um crescimento de 5% nas vendas para os 27 países da união, Portugal viu as exportações aumentarem 2,4% no segundo trimestre. O espaço extracomunitário, que tem ajudado a sustentar o dinamismo das exportações, também está a abrandar: depois de as vendas terem crescido 32,9% no primeiro trimestre, estão agora a aumentar 17,8%.

Olhando apenas para Junho, o comportamento das vendas ao exterior é positivo e mostra mesmo que as exportações aceleraram neste mês, sobretudo graças ao aumento das vendas de combustíveis minerais para os parceiros comunitários. No global, as exportações cresceram 9,2% em termos homólogos, o que compara com o aumento de 8,2% registado no mês anterior.

Em termos mensais, ou seja, quando comparado com o mês anterior, as vendas ao exterior registaram, contudo, uma quebra (de 2,1%), devido ao decréscimo no comércio extracomunitário, com menores vendas de combustíveis minerais, veículos e outro material de transporte.

Nota: Sem nota...